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terça-feira, 23 de outubro de 2012

Algumas considerações sobre a história de Pouso Alegre- Isaias Pascoal

Pouso Alegre completa este ano 161 anos de sua elevação à condição de cidade e 178 anos da sua emancipação política. Hoje os dois processos são o mesmo. Na época do Império Brasileiro, não. A emancipação de dava com a elevação a Vila, e não a cidade, que era um título mais honorífico.
Já adverti publicamente do erro em considerar o ano de 1848 como o da emancipação política de Pouso Alegre. Em 19 de Outubro de 1848, foi assinada pelo presidente da Província de Minas Gerais, Bernardino José de Queiroga, a Lei n° 433, que elevou a Vila de Pouso Alegre à condição de cidade, não de sua emancipação política, que ocorreu em 13 de outubro de 1831. Em 1832 foi instalada a Câmara Municipal, símbolo da emancipação política. Vale lembrar que na época não havia prefeito. As funções que hoje lhe são próprias eram executadas pelo presidente da Câmara. Foi assim até a ascensão de Getúlio Vargas ao poder.
Na verdade, a emancipação política e administrativa de Pouso Alegre tem 178 anos. Não consigo entender a razão de os pouso-alegrenses comemorarem o dia 19 de Outubro como o dia da cidade. Historicamente isto está errado, pois a maior parte pensa que neste dia ocorreu a emancipação política. Não. Ela ocorreu em 1831, no mesmo mês de outubro, mas não no dia 19 e sim no dia 13. Ao tornar-se cidade, em 1848, nada foi acrescentado à sua institucionalidade. Um estudo histórico mais profundo poderia revelar os motivos que fixaram o dia 19/10/1848 como o dia e ano da cidade. É possível que aí tenha se consolidado a data.
Mas acho que é um erro. Se o ano de 1848 é o que deve ser focalizado, perde-se a memória da pessoa que mais lutou pela autonomia administrativa e política de Pouso Alegre, o padre e senador José Bento, que morreu em 08 de fevereiro de 1844.
Permitir isso é um atentado contra a memória de José Bento, a figura política mais expressiva de Pouso Alegre e todo o sul de Minas. Não dá para explicar o porquê disto aqui, mas sugiro aos interessados ler a biografia de José Bento, escrita por Amadeu de Queiroz, e meu artigo sobre a sua importância, que pode ser encontrado na internet (www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-87752007000100012&script=sci_abstract). Ainda mais que, neste ano, o Prefeito e a Câmara Municipal o entronizaram como patrono das duas entidades. Sobre 1848, José Bento nada tem a dizer. Ele que foi o principal responsável e o arquiteto da emancipação da então freguesia de Pouso Alegre, que pertencia ao município de Campanha.
Sugiro às autoridades que estudem o caso e que a Câmara Municipal crie uma lei estabelecendo que o aniversário de Pouso Alegre não é 19 de outubro, e sim o dia 13 de outubro. E que o ano de referência não é de 1848, e sim 1831.
O ano de 1848 e o dia e o dia 19 de outubro podem até continuar sendo uma data comemorativa, ma não da emancipação de Pouso Alegre. Só que não deixa de ser ironia que a data mais importante da história de Pouso Alegre passe em branco, como se nada tivesse ocorrido, quando na verdade ela é a mais significativa. Como se José Bento passasse em “brancas nuvens” quando, na verdade, ele foi o maestro de tudo.
José Bento fez muito pela cidade. Em uma época muito recuada, suas ações nos ensinam que quem age pode mudar a situação. Há que ter garra, há que ter força, há que persistir, há que desafiar limites. Ele é símbolo de tudo isso. Não pode e não deve ser esquecido.

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